A especialista em história da arte Regina Machado ministrou, no último dia 23/04, a segunda aula (clique aqui para assisti-la) do curso online ‘O diálogo das joias com a arte’ durante o mais novo programa da Associação dos Joalheiros do RJ – o Live AJORIO.
“Nosso objetivo é evoluirmos com o aprendizado nas plataformas disponíveis para transmissões. Na primeira aula tivemos problemas. Nesta semana, resolvemos testar o YouTube e obtivemos resultados excelentes!” – comentou a diretora executiva da entidade, Angela Andrade.
Na aula ‘As joias falam com o poder’, Regina destacou as características mais importantes da joalheria greco-romana. O pensamento da época é referência para o conhecimento ocidental e seguiu influenciando renascimentos e inspirando os estilos de muitas outras épocas.
Segundo historiadores, a era Greco-romana começou no século V a.c. e se estendeu até o século II d.c.. Denominada como Antiguidade Clássica, foi um período onde foram registrados grandes avanços no pensamento humano. Até hoje o adjetivo "Clássico" se refere ao imaginário do grau máximo de desenvolvimento da cultura ocidental. Pode-se dizer, em geral, que o clássico é digno de admiração e imitação. Faz parte de uma categoria que é considerada como uma referência para todos as outras expressões artísticas. Se compararmos com a joalheria egípcia, encontraremos importantes mudanças e significativas continuidades. O período se caracterizou pelo início da reflexão filosófica a respeito do mundo e, nesta civilização, a busca pelo conhecimento foi realizada sem a intermediação da tradição religiosa dos sacerdotes.
Exemplos na arquitetura
Atenas, reconstituída em imagem, como teria sido nos anos de ouro da civilização grega, em 435 aC.
A arquitetura de Atenas expressa o avanço do pensamento humano na criação de soluções estruturais e na distribuição funcional dos espaços. Não há mistérios simbólicos a serem desvendados como, por exemplo, na forma piramidal egípcia.
O desenvolvimento cognitivo a respeito da natureza, incluindo a humana, possibilitou a realização das representações tridimensionais e a excepcional capacidade escultórica do estilo. Foi fruto desta civilização a construção de estradas com escoamento perfeito, aquedutos que até hoje são patrimônio da humanidade, prédios que demonstram a predominância do pensamento racional e a capacidade de projetar visando os métodos construtivos.
A construção do Coliseu foi um marco do poder do Império Romano. (clique aqui para ver o vídeo - a partir de 41min) O prédio foi construído utilizando módulos. Cada um dos arcos foi repetido 80 vezes em cada um dos andares a partir de uma forma, tudo previamente pensado e calculado de maneira precisa.
Principais características da joalheria greco-romana
Diferentemente da escola egípcia, o estilo incorporou mudanças durante o tempo de sua duração. A duração do poder do império possibilitou a conquista de muitos territórios, trazendo riquezas como metais e gemas preciosas variadas para o desenvolvimento da joalheria dessa época. Com o crescimento do Império e a disponibilidade do ouro conquistado, novos lugares de destaque surgem nesta sociedade: os romanos revogam as leis da austeridade, que vigoraram no século I a.c., e a joalheria passa a atender um número maior de pessoas.
As análises históricas definem três importantes períodos com características próprias em seus estilos:
Arcaico (600 a.c.) - O estilo grego denominado arcaico, começa ainda influenciado pela estética egípcia. As técnicas se desenvolvem. A fundição por cera perdida permite que as formas sejam reproduzidas facilitando a composição de padrões, uma das principais caraterísticas do estilo.
Clássico (450 a.c.) - Início da construção de um estilo que tem seu auge no período chamado Clássico.
Predominância de diademas com finas folhas de ouro, estatuária e camafeus são os principais temas. Os brincos com formato de barco, os colares com miniaturas repetidas ou em aro oco, com terminação de cabeça de animais, são inspiração para as escolas de joalheria que se seguiram a esta.
Com relação às gemas, diferentemente da sua utilização na joalheria egípcia, o estilo greco-romano buscou o aproveitamento quase total das pedras preciosas. Os exemplos remanescentes apresentam poucas mudanças no formato mais natural das gemas, com um polimento suave, lapidação tipo moldura destacando a beleza do brilho e das cores.
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O período incorpora a influência da cultura dos países conquistados. As pedras e metais preciosos são introduzidos, tais como ametista, granada, esmeralda e pérola. No entanto, as artes da lapidação e da cravação não trabalhavam com técnicas e soluções variadas.
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A figura humana ganha uma representação detalhada, fruto da observação da natureza dos corpos, realizada diretamente por meio do olhar dos artistas e não mais esquematizada por soluções simbólicas como no Egito Antigo. O poder dos imperadores é tema da joalheria dos camafeus, onde a figura é colocada de perfil, mas diferentemente das soluções simbólicas egípcias, todos os detalhes do rosto buscam expressar a singularidade das caraterísticas físicas do detentor do poder.
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A expertise representativa é tão grande que algumas figuras escapam da bidimensionalidade retratada nos camafeus e se projetam em busca do escultórico.
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Helênico (330 a.c.) - O período helênico agrega a temática naturalista ao estilo. As argolas, as alianças e braceletes são decorados com a técnica do cinzelado, da filigrana e da granulação.
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As soluções que encontramos nas joias do período, como os colares longos com entremeios de gemas, a forma sinuosa das serpentes, o sentido de poder do uso dos braceletes e a força dos nós, revelam a permanência da beleza clássica.
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A adoração no templo da razão
O pensamento mágico dos mitos e dos Deuses continuava a sustentar a adoração, mas um olhar humano sobre a razão do funcionamento das coisas do mundo se desenvolvia. O Nó de Hércules é uma das formas que revela a permanência do pensamento mágico da crença da proteção dos símbolos e dos talismãs. As peças eram, segundo os historiadores, populares entre os guerreiros por estarem associadas ao poder de proteção contra os cortes, o grande perigo nas batalhas dos guerreiros da antiguidade.
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, os clássicos possuem um vínculo secreto com o espírito de suas épocas. “Clássico” é um conceito com o qual dialogamos por toda a trajetória da cultura ocidental.
A estética greco-romana se materializou na arte, na arquitetura e na joalheria o pensamento do seu tempo. Os clássicos não envelhecem, ou seja, constituem um estilo que sobrevive à dinâmica do gosto.
Próxima aula
Regina Machado abordará na próxima semana (terceira de oito aulas), as joias iniciais do cristianismo. Sob o tema 'As joias expressam a religiosidade', a consultora analisará as principais características das joias medievais.
Segundo a professora, "a ideia dos diálogos entre as joias e a arte é a de estimular as nossas reflexões sobre a relação entre estes objetos auráticos e as tomadas de consciências promovidas pelo século XXI. Participamos de uma busca, constantemente atualizada, pela manutenção do sentido de permanência das joias. A intenção das Lives é a de estimular a criação de novos clássicos, joias que expressem a essência de nossa contemporaneidade" - conta Regina
Nossos encontros acontecem toda quinta-feira, às 17h e vão até o dia 04 de junho pelo canal da Ajorio no Youtube, clique aqui para acessar.
Calendário
Fique atento às próximas datas e assuntos:
30 de abril. As joias expressam a religiosidade
07 de maio. As joias expressam os gabinetes das curiosidades
14 de maio. As joias experimentam a sedução
21 de maio. As joias experimentam a nova arte
28 de maio. As joias comunicam a modernidade
04 de junho. As joias são a contemporaneidade
Sobre a professoraÉ arquiteta, especialista em história da arte, mestre em comunicação dos sistemas simbólicos e doutora em comunicação e cultura. Atua como pesquisadora, professora, consultora e curadora, de design de produtos e comunicação.